domingo, 10 de maio de 2009

Ingenuamente Feliz

Deste o teu primeiro passo, com medo. Pronunciaste a primeira palavra, sem medo. Sorriste e gritaste, inconscientemente ainda. E eu vi-te, ali, com tanta vida e uma felicidade tão inocente. Eras ingenuamente feliz. Não vias perigos nem sentias medo de nada, senão de cair. Choravas talvez sem saberes porque. Podia ser apenas por vontade sem qualquer motivo que fundamentasse tal atitude. Eras alegria para aqueles, tal como eu, que te viam a flutuar, e a sorrir, tão livremente. Não questionavas nada, pelo menos aparente. E assim, eras feliz, ingenuamente. Após passos e palavras, olhaste à tua volta e as coisas mudaram de sítio. Estavam diferentes, para ti. Mas não, eras tu que simplesmente olhavas de forma diferente para elas, porque no fundo, por muito que quiséssemos, elas não mudariam. É quase uma convenção. Então olhaste. Voltaste a olhar e que sentiste? Não sei… Vi-te crescer, num curto espaço de tempo que esqueci-me que aquilo a que denominamos tempo, não para nem espera. Tu, não sabias sobreviver agora sozinha? Provavelmente não. Existem perigos que não conheces mas não podes ser super protegida. A vida espera-te assim. Vais ter medo, vais chorar, sentir falta do teu tempo de criança, mas não vais voltar a trás. O tempo realmente não espera, avança e tu segues com ele… Estás com outros olhos, outros medos, outros sonhos. Criaste-os sozinha, agora. Estás a ficar uma mulherzinha e já sabes delinear conscientemente as tuas ideias. Vês sonhos e idealizas pinturas abstractas. Mas é assim que te vais construindo e sorris. Dás um passo maior que outro e o ângulo da tua vida, aumenta. Estendes a mão ao teu coração, que te pinta, por dentro e por fora. Não, tu és muito mais do que aquilo que mostras. És feita de ouro, ouro que não tem preço e o peso dele, não é medido. Tens brilho próprio e continuas com o teu gentil jeito inocente. É uma inocência gentil, aquela em que cresceste. Agora, tens uma folha e um lápis. Podes desenhar os teus sonhos. Podes fazer traços finos e idealizar as rectas objectivas. Podes ser tu mesma, agora sem medo das críticas que te podem fazer, ser tu mesma, por ti mesma, nesse desenho. Desenha-te a ti, com todos os traços que te constituem. Não será autêntico, mas será teu. Tu, que vives sob a realidade indesejada. Tu, que desconheces e questionas tudo, agora. Então pega no lápis, agora que tens tempo, e risca. Desenha. Não tens mil anos, mas tens o coração na tua mão. Ele não para assim. Tens coragem, eu sei que sim… Olhaste em frente, e sentiste o sopro do vento, no teu rosto. Dócil sopro. Ele que te fala em silêncio e tu ouves, muda. Porque te prendes dessa forma ao receio de enfrentar o mundo? Ele é perigoso, mas tu aprendes a lidar com ele. Não esperes que o tempo te dê uma resposta, porque esse não fala, esse apenas corre. Sim, ele já não passa com a suavidade que passava, ele já corre. Tu já és uma mulher, e ele vê isso. Está a correr e tu não te apercebes que é a tua vida que está a passar assim, desta forma tão silenciosa. Tens mil sorrisos para agarrar, com as tuas mãos, enquanto a tua alma não te deixa acorrentar o passado que já foi. Sim, é mais um passo que tens que dar. Já deste tantos e tão grandes, é apenas mais um. Solta-te. Estás a ficar angustiada com tanta pressão. Dá-me a tua mão. Eu seguro-te, como quando eras pequenina e tentavas dar os teus pequenos e admiráveis passos. Estás já mais segura de ti mesma e a convicção com que ages é já independente. É o teu desenho, ainda incompleto. Estás ainda com medo, porque o lápis foge-te da mão, pela minúscula força que exerces sobre ele. Já te dei a mão, já te disse todos os modos de andares sobre a vida, estás intacta, não podes temer tanto. Deixa-te levar, porque já ninguém te puxa e mais tarde, também ninguém te segurará. Isso, levanta-te e pega noutra folha. Ou uma tela, se preferires. Talvez desse sonho que traduzes nos teus olhos, possas pintar o teu próprio sorriso. E é assim que te admiro ao ver-te crescer. Então começa a tua obra de arte. E deixa que o teu coração dite as regras e os limites dessa mesma tela. Porque eu posso já não estar aqui para ver o ultimo traço do teu quadro, mas deixo-te o segredo do coração. Deixa fluir…

2 comentários:

  1. Divinal, uma excelente escrita que dá gosto ler... de facto o tempo fica, nós é que vamos passando... bj

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  2. Divinal! e palavras para quê? se por ti fluem e nos fazem fruir...pois é afinal o tempo fica, nós é que vamos passando...

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